10 April 2009

Embriagai-vos



É preciso estar sempre ébrio. É tudo: eis a única questão. Para não sentir o terrível fardo do Tempo que vos quebra as costas e vos inclina para a terra, tendes de embriagar-vos sem tréguas.Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos, E se porventura, nas escadas do palácio, na relva verde de uma vala, na solidão morna do vosso quarto, despertardes, a embriaguez já fraca ou desaparecida, pedi ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que se esvai, a tudo o que geme, a tudo o que passa, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio responder-vos-ão: “ Está na hora de se embriagarem! Para que não se tornem escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; Embriagai-vos incessantemente! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha!”


Autor: Charles Baudelaire (Paris-1821/1867)
Imagem: Claudia Marcu

2 April 2009

Ruínas em Ruína



Rangiam os soalhos arqueados da temporalidade,
fracturas de uma eternidade,
uivos agrestes de vozes mortas que trespassavam,
pelas janelas se libertavam,
musgos adornantes de escadarias infinitas,
em mesclas de silvas interditas,
lareiras esventradas em telidez permanente,
em inexistência de faúlha consequente.

Túmulos de jardins excelsos em ruínas imponentes,
afagâncias inóspitas de ventos estridentes,
refúgios de almas decompostas em eternização,
simbioses de calmaria na extensa solidão.

Cortinas bailantes ao luar outrora presentes,
extinção das danças pelas vidas dissidentes,
colorações em inexistência nas vagas imensidões,
singelos espaçamentos nas presentes depurações.

Penumbras de corredores silenciosamente desolados,
obscuridades de tormentos indagados,
nas tempestades de inexistências,
se volatizam as vivências...



Autor: Bruno Resende in "Khaos Poeticum"
A ouvir: Rammstein
Imagem: Glauco Dattini