15 November 2009




Chegando do silêncio
Sensualidade
das árvores que se despem
na mais linda viagem Outonal...
Longe da insãnia
de tijolo e argamassa
enverdece pulsante
a imponente montanha devassa
rasga, indulgente
contagiante cheiro
na rarescência das vertentes da pureza
num vale de solidão.
A paz fulminou
cumes da mais liquefeita
imaginação selvagem
na mais distinta
longínqua
incontroversa imagem.


A ouvir: Green Carnation
Imagem: Ron Jones

1 October 2009


Razão e loucura
abismo de mãos e gestos em fúria
palavras
silêncios
e corpos suspensos.
Nas bocas a febre
nos olhos delírio
neste mistério do costume
cheio de frio e de lume.
Camuflada e perdida
uma gota de suor se incendeia
e numa teia
numa emboscada
a luz cresce e rompe
deslumbrada.



A ouvir: Type O Negative - "October Rust" (1996)
Imgem: Janusz Taras

9 August 2009


E se for meu o silêncio que por vezes se repercute, um vácuo esparsamente preenchido, por cima de outros mundos... um espaço desfeito, como uma gota de luar nas mãos...
Tomba por mim dentro a sombra da árvore, como um corpo que discreto me fecunda...
Nado na água da poesia e a terra do meu corpo, húmida, cumpre-se em palavras.
Deixem-me ficar aqui, no silêncio assombrado e subir ás árvores e viver aí, saboreando o azedo visceral da inquietude.



A ouvir:"Black Swans" - Lacrimas Profundere
Imagem: Claus Rebrow

1 June 2009


Templo que se enche de fumo e as trepadeiras desmaiam sobre copos cristalinos. As colunas que o rodeiam, tapam as paredes que as seguram... e os corpos que dançam fora e dentro, abrem-se como rosas, de canteiros improvisados...
As liras tocam e enchem o ar de perfume...
As folhas caem do jardim e as árvores lá em cima sugerem a linguagem liquefeita da púrpura pura, da alquimia de tintas e das cores que o templo nos conta, nos diz na sua forma mais bela como os archotes que iluminam suas entradas e entranhas paradisíacas...


A ouvir: Lisa Gerrard "Laurelei"
Imagem: Giedrius Neturiauskas

21 May 2009



Uma língua de fogo traz um olhar insinuante,
como uma esplêndida ave rubra
no altar da Noite...
Os lábios,
sorvendo odores
misturados em saliva,
mordendo até ao próprio sangue
as palavras esmagadas...
sons desconhecidos
que se esforçam por me deslumbrar...
As mãos em arco sobre o fogo...
uma gota de ironia
Eterno ritual!

14 May 2009

deve haver uma outra noite

onde caibamos todos

inocentemente felizes

a comer laranjas

e a discutir problemas

de aromas de flores





A ouvir: Burzum - "Frijôs Einsames Trauern"
Imagem: Natdia


10 April 2009

Embriagai-vos



É preciso estar sempre ébrio. É tudo: eis a única questão. Para não sentir o terrível fardo do Tempo que vos quebra as costas e vos inclina para a terra, tendes de embriagar-vos sem tréguas.Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos, E se porventura, nas escadas do palácio, na relva verde de uma vala, na solidão morna do vosso quarto, despertardes, a embriaguez já fraca ou desaparecida, pedi ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que se esvai, a tudo o que geme, a tudo o que passa, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio responder-vos-ão: “ Está na hora de se embriagarem! Para que não se tornem escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; Embriagai-vos incessantemente! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha!”


Autor: Charles Baudelaire (Paris-1821/1867)
Imagem: Claudia Marcu

2 April 2009

Ruínas em Ruína



Rangiam os soalhos arqueados da temporalidade,
fracturas de uma eternidade,
uivos agrestes de vozes mortas que trespassavam,
pelas janelas se libertavam,
musgos adornantes de escadarias infinitas,
em mesclas de silvas interditas,
lareiras esventradas em telidez permanente,
em inexistência de faúlha consequente.

Túmulos de jardins excelsos em ruínas imponentes,
afagâncias inóspitas de ventos estridentes,
refúgios de almas decompostas em eternização,
simbioses de calmaria na extensa solidão.

Cortinas bailantes ao luar outrora presentes,
extinção das danças pelas vidas dissidentes,
colorações em inexistência nas vagas imensidões,
singelos espaçamentos nas presentes depurações.

Penumbras de corredores silenciosamente desolados,
obscuridades de tormentos indagados,
nas tempestades de inexistências,
se volatizam as vivências...



Autor: Bruno Resende in "Khaos Poeticum"
A ouvir: Rammstein
Imagem: Glauco Dattini

13 March 2009



O Silêncio aninhou-se na intensa nudez...

O corpo anoitece, ameaçado pelos abismos dos sonhos...






Imagem: Emil Schildt

3 March 2009



Noite plena de imagens no fluir do olhar
Êxtase puro, profundo... polpa de silêncio
explodindo através de sons...
Palavras longínquas devoram a amplidão das sombras,
ao som de flautas lascivas e ao ritmo de véus em danças...
Mais fecunda, mais lúcida
a Lua sobe...
E os Deuses não falam...
Ouvem-se porém os passos dos poetas,
que trazem na noite a harmonia oculta...
Existe vida na carne das palavras que chegam,
ofegantes e vermelhas...
sílaba a sílaba...
num golpe profundo.


Imagem: Gulubaja
A Ouvir: Qntal - "Dulcis Amor"

22 February 2009



Arrebatador até doer...
Um desejo obscuro de fusão
De desnudar uma realidade
Só muito levemente pressentida...
Há palavras
Que não se dizem...
Olham-se bem dentro
Dos olhos...
Da pele...
Dos sentidos
A meio do silêncio
Num estremecer profundo.


Imagem: Rick Blackwell
A ouvir: "The Host of Seraphim" - Dead Can Dance

7 February 2009

Cidade à Beira-Lua



I
(Overcome at the face of horrified screams, pouring randomly from mouths of machines, calling for help inside, for now where once souls would have been they cracked the mechanical dream.)

Onde os leões choram
E nascem os sonhos
Persistimos.

Aqueles que se vão
Escondidos são
Profundo nos segredos da terra.

Peguei numa ilha
E construí-a vertiginosa,
Cidade vaporosa.
Por um último momento
Caminhei até ao parapeito da vida.

Autor: André Consciência (HornedWolf) in À Beira-Lua
A ouvir: Stars Of The Lid - The Lonely People (Are Getting Lonlier)
Imagem: Julia Starr

19 January 2009


O Luar que incendeia a minha sombra, quebrando a janela onde eu viajo, grita a dor perfeita e silenciosa, ondulante e vazia, que risca o profundo céu…
Lá fora, na noite enfeitiçada, iluminada pelos góticos candeeiros que irradiam uma crepuscular luz que infesta a escuridão… sopra um vento fraco, vociferante, que tenta aclamar algo, ao som de um piano que morre na distante floresta…
Ouve-se então o entoar de um poema e as águas de um rio desconhecido que ainda alimentam as ruínas de um esquecido castelo… as paredes são ásperas… de pedra pura…
Sob algumas árvores, um intenso percurso de sons inteligíveis e pequenas vozes que, percebo, de um espaço vital… onde plenamente me integro…
Há um caminho que me seduz…